O carro de
policia atravessou os enormes portões de penitenciaria, senti um iceberg se
formar dento de mim, agora era real, e não tinha volta, ao menos por enquanto não.
Adentrei
algemada nas instalações do presidio, fui levado para a revista, "com coisa que
eu já estivesse extremamente humilhada" Fui obrigada a ficar completamente nua
após retirarem as minhas algemas, elas
me revistaram por completo.
Depois de recomposta recebi um cobertor, e alguns utensílios de higiene pessoal, e fui encaminhada para a cela que eu dividiria
com mais uma detenta. Entrei e elas trancaram a cela, me acomodei na cama de
baixo, já que a outra detenta estava na cama superior, ela parecia estar
dormindo, não fiz muita questão de olhar para ela, apesar de a curiosidade
gritar dentro de mim, queria ao menos ver o seu rosto, e saber se ela não tem
cara de ser uma assassina psicopata.
Me ajeitei
na cama, e como ela não tinha travesseiro, coloquei o meu cobertor no lugar
dele e me deitei, precisava pensar era a única coisa que me restava fazer aqui dentro deste lugar.
Precisava bolar um jeito de sair daqui o
mais rápido possível, só de pensar na possibilidade de não sair, ou de ser
extraditada do pais, sem ao menos cumprir os meus objetivos, me deixava completamente frustrada.
Mais uma vez senti o meu peito apertar, e uma dor insuportável arrebatar o meu coração, a única coisa que eu queria era chorar,
chorar ate me desidratar por completo, e morrer seca. Ah, se isso fosse possível, mas acho que mesmo se chorasse
horas a fio, não conseguiria me livrar da dor que estou sentindo, e muito
menos morrer seca.
Depois de muito pensar, eu não cheguei a conclusão nenhuma, a
não ser esperar e ver o que a Rubi poderia fazer por mim.
O meu maior medo, era
já que não nos conhecíamos muito, apesar de morarmos juntas a alguns meses, eu
não sabia se ela era uma pessoa completamente confiável, afinal eu morei quase um ano com a Laísa, e no final aconteceu o que aconteceu, e sinceramente este
era o meu maior medo. Depois de um tempo conversando comigo mesma, acabei
adormecendo.
Acordei com
uma voz forte e levemente grave me chamando de um jeito tranquilo, e ate que brincalhão
-O bela
dormecida, acorda, a janta já passou!... Se voçe não for comer me avisa por que
aqui a comida e bem pouca, e eu comeria a sua sem problemas!
Ela estava
de costas para mim, sentada em uma mesa de concreto que usávamos para guardar as nossas coisas, e que também era usada como mesa de refeições. Ela vestia o mesmo que eu logicamente, e estava com os seus cabelos negros presos em um
coque baixo.
-Eu não
quero comer, se quiser pode ficar!<disse calma e serena, não sabia com quem
estava falando>
-<sorriu>... Vai fazer greve de fome?... Esquece, isso não as comovem, e capaz de te
deixarem morrer de fome!
-Eu não
quero fazer greve, só estou sem fome!
-Sei!<se
virou para mim>... Não vou comer a sua comida, uma hora terá fome!
Ela era uma
mulher muito bonita, tinha a pele branca, de olhos castanhos profundos, tinha o
rosto bem marcado pelos seus traços naturais, e estava gravida. Me sentei na
cama e curvei levemente o meu corpo para frente apoiando os meus cotovelos nos joelhos e encarei a sua barriga, ela deveria estar com uns quarto ou cinco
meses, senti o meu coração apertar, e as lagrimas querem cair, mas eu as
impedi, com todas as minhas forças, não queria, e não poderia carregar esta
culpa comigo o resto da minha vida.
-Pode comer
se quiser!<disse em um tom firme segurando o choro>
-<sorriu
novamente sarcasticamente desta vez>... Por que voçe esta aqui?... Não tem
cara de quem faz merda!
-Eu não fiz,
e não faço merda!... Estou aqui injustamente!
-Todas falam
isso...
-Mas eu sim,
eu estou aqui injustamente!... Eu estava gravida assim como voçe esta agora, e
uma mulher que eu achava que era uma boa pessoa, alem de me dopar, me injetou
uma alta quantidade de drogas no sangue, e me fez parar aqui neste lugar...
-Já vi que
voçe e uma boba!
-Boba, eu?
-Claro, para
cair numa dessas, só pode ser uma boa, ou muito ingenua!... Onde já se viu deixar
uma coisa destas acontecer com voçe!... Acho que se perdesse o meu bebe, eu
piraria!
-Voçe não
sabe como estou por dentro!... Eu pensava que ela era uma boa pessoa...
-Hoje em dia
não existem boas pessoas!... Todo mundo quando oferece algo, quer alguma coisa
em troca, e se voçe não der...
-Eu estou
aprendendo isso da pior maneira, acredite!... E como voçe veio parar aqui?
-Trafico de
drogas!
-Por que
voçe virou traficante?
-Eu posso
ate te dizer, mas antes voçe vai comer, esta com uma cara péssima!... Serio,
esta me dando medo! <me entregou a minha marmita>... E se voçe perdeu um
bebe a pouco tempo, precisa repor as suas forças, e energia!
Aceitei a
sua gentileza, tocamos de lugar para que pudesse comer mais confortável.
Ela me contou que estava em casa ajudando a mãe com o almoço do dia de ação de graças,
uma data tão importante para os Americanos, quanto o Natal para os Brasileiros.
Enfim, ela estava ajudando a mãe, quando o namorado apareceu na casa dela, e a
chamou para sair, ela disse que não queria ir, que iria ficar com a mãe e
ajuda-la, mas ele insistiu, e ate a mãe dela insistiu dizendo que ela quase não
saia de casa, e estava tudo bem, ela daria conta a partir dali.
Ela se
arrumou e saiu com o namorado, eles estavam a pouco mais de seis meses juntos,
e ela não tinha notado nada de errado com o comportamento dele ate então, ele era
carinhoso, atencioso, e sempre lhe agradava com algo, era um bom namorado a
vista de todos, e dela própria. Mas naquela tarde a sua visão de bom, moço iria
mudar drasticamente.
Eles estavam
em uma praça ela estava sentada, e ele com a cabeça em seu colo, estavam distraídos quando apareceu uma viatura policial, ele se levantou rapidamente a
pegou pela mão, e tentaram correr, mas a policia foi mais rápida abordando os
dois, e na revista acharam no bolso dele uma certa quantidade de maconha, e 15 papelotes
de cocaína, e apesar dela não saber das drogas, ela foi presa e acusada por
associação ao trafico,. e deste então ela estava ali.
Estava presa a pouco mais de 3 meses, e a dois descobriu
que estava gravida, o seu namorado esta em uma penitenciaria no Colorado, ele
não sabe do bebe que ela espera, e ela pretende não contar, ela esta muito
decepcionada com ele, e com ela mesma. Ela ainda sera julgada, e dependendo da
sua pena, ela terá o seu bebe ainda na cadeia.
-Ele foi um canalha com voçe!... Não deveria ter te chamado para sair com estas coisas!...
Se ele realmente gostasse de voçe, não teria feito isso!
-A minha mãe disse a mesma coisa!<sorriu tristemente>... Mas agora e tarde demais!
-Desculpe a
minha ignorância, mas qual e o seu nome?
-Ignorância,
voçe me parece ser bem certinha, realmente voçe não e uma garota para estar
aqui!... Me chamo Barbara, tenho 17 anos, mas pode me chamar de Barb!... E
voçe?
-Me chamo
Marianne, vou fazer 19, ou 22 anos, voçe escolhe!<sorri>... Mas pode me chamar
de Mary, ou de Holly!
-Como
assim?... Fiquei meio confusa!
-Não sou
tão certinha assim como voçe me pre-julgou, tenho uma vida meio atribulada, mas
em relação a drogas, sou completamente contra!
-Acho que
não te compreendi muito bem, ainda!<sorriu>
Contei a ela
um resumão da minha vida, que a deixou bastante intrigada, e surpresa. Ela
disse que se me visse a esma na rua, jamais imaginaria que eu fosse uma garota
de programa.
Naquele dia entramos madrugada a dentro conversando, ela me contou
um pouco de como funcionam as coisas dentro da penitenciaria, ela disse que
pela manha, tem um banho de sol no patio depois do café da manha, e logo em
seguida tomávamos banho, depois almoçávamos, e durante a tarde tínhamos atividades para nos distrairmos ali dentro como artesanato, cuidados com a
beleza, e ate aprender a cozinhar.
Tinha programas de recuperação para quando voltássemos para as ruas, tivéssemos algo para ocupar a mente, e não fazer mais
as mesmas coisas.
Confesso que
os primeiros dias foram muito difíceis ali dentro, mas ate que eu estava encarando muito bem na medida do possível, e ela me ajudava bastante. Nas
segundas e quartas, eu fazia artesanato, e as terças e quintas ia para a
cozinha do presidio, e as sextas todas arrumavam as celas, e limpavam os
banheiros, tínhamos que fazer, eramos obrigadas a fazer, e se não fizesse a
quela policial que jurou ficar na minha cola aparecia, e simplesmente tocava o
terror, já tinha visto ate algumas detentas apanharem.
Era dia de
visita, eu estava na minha cela lendo um livro que a Brab tinha ganhado da mãe dela em uma das visitas. Enquanto ela tomava banho e se preparava para ver a mãe uma policial apareceu e disse que as visitas já tinham chego, eu
imaginava que não receberia a visita de ninguém, mas mesmo não recebendo, eu
teria que me encaminhar ate a área de visitas, pois enquanto estivéssemos por
la, as nossas celas seriam revistadas pelas policiais.
Adentramos a uma salinha
simples, que deveria comportar cerca de 100 mulheres e ficamos a espera das
nossas visitas, eu tinha levado o livro, estava no fundo da sala lendo,
enquanto a policial chamava uma por uma de acordo com que as visitas chegavam.
Já era a
minha segunda semana aqui, e na primeira vez não tinha vindo ninguém, sem
duvidas desta não seria diferente, mas para a minha surpresa...
-Marianne
Almeida!<disse em alto e bom som a policial de pé na porta que ligava área de visitas>
Me levantei
e tentei imaginar quem poderia ser, quem poderia ter vindo ate aqui para me
ver, e a única pessoa que passava pela minha cabeça era a Rubi. Mas como o
destino não brinca em serviço, e adora pregar uma peça, desta vez não seria
diferente.
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