Não me
lembro da ultima vez em que me senti tão feliz em toda a minha vida, o advogado
parecia ser uma boa pessoa, e bem justo, ao menos era o que aparentava. Ele me
encarou seriamente assim que nos sentamos um de frente para o outro, ele
colocou a sua maleta em cima da mesa, e retirou algo que parecia ser um tablet,
o ligou e após mexer em algumas coisas voltou a me encarar.
-Gostaria
que você me contasse tudo o que você se lembra daquele dia!
-Tudo o que
eu me lembro e o seguinte...
Comecei a
contar a ele tudo o que eu me lembrava desde a visita da Saueller, ate a hora em
que sai do hospital, ele anotou tudo o que lhe disse com dedos muito ágeis em seu
aparelho eletrônico, que segundo ele era uma bela ferramenta de trabalho.
Depois de
mais ou menos trinta minutos de conversa, fato que só era permitido com os
advogados. Ele disse que já tinha o suficiente, e que conseguiria montar uma
defesa forte para mim, e que no mesmo dia ele iria fazer a petição do meu habeas
corpus, ou a minha liberdade provisória mediante ao pagamento de fiança.
Retornei
para a minha cela, e para a minha surpresa já não estava mais sozinha, tinha
acabado de chegar uma detenta para dividir aquele minúsculo espaço comigo.
Assim que entrei, ela me encarou seriamente, fazendo uma cara de ma, que me fez
arrepiar, provavelmente não seria a sua primeira vez na cadeia.
-Ola!<disse
tentando ser no mínimo amigável>
Ela
simplesmente me encarou seriamente, acho que se ela pudesse me comeria viva
naquele momento. Resolvi ficar na minha
e manter o minimo contato com ela, ja que ela não queria conversa, eu que não
iria tentar puxar assunto.
Me sentei na
cama e peguei novamente o meu livro, era a única coisa que me restava fazer
neste momento, ler, tentar colocar a minha cabeça no lugar, torcer, e esperar a
resposta do habeas corpus.
Os dias se
passaram, e a convivência com a Calixta (Era a única coisa que consegui retirar
dela ate agora, alem de saber que estava aqui por ter assassinado o seu
ex-marido) não tinha evoluído muito, ela era uma mulher fechada, e com uma carranca enorme.
Já estava
indo para o segundo mês que estava presa, e parecia que nada havia mudado, e
que todo mundo tinha se esquecido de mim dentro daquele lugar, pois não tinha
recebido mais nenhuma visita desde a ultima vez em que recebi o advogado. A
Calixta era uma mulher muito rude e extremamente cruel, ela conseguia tudo
através da agressão, já tinha perdido as contas de quantas vezes tínhamos
brigados por coisas bobas como um creme dental, e as vezes que sai no prejuízo
com um olho roxo, ou com a face marcada, mas nunca arreguei para ela.
Estávamos
voltando do banho de sol, tinha acabado de entrar na cela quando uma das
policiais carcerarias apareceu nas grades, e disse para que arrumasse as minhas
coisas se dar mais nenhuma explicação. Ela saiu e eu arrumei as minhas coisas
assim como ela havia me pedido, eu não imaginava o que poderia ser, quem sabe a
mulher enjoou da minha cara, e pediu para que me transferissem de cela antes que ela
me matasse.
Terminei de
arrumar as minhas coisas, e fiquei sentada na cama a espera de seu retorno, cada
minuto era horrível e extremamente desgastante, eu ficava agoniada e com medo
do que poderia ser, com medo do que elas iriam fazer comigo. Depois de mais ou
menos uma hora ela retornou, abriu a cela e pediu que eu a seguisse, e assim eu
fiz. Seguimos corredor a dentro, e chegamos em uma espécie de escritório, ela
mandou que deixasse as minhas coisas ali e me sentasse, ela saiu e em seguida
uma senhora de idade com um semblante simples, aparentando ser uma boa pessoa, entrou com algumas coisas envoltas em um saco plástico, e me entregou.
-Aqui estão
as suas coisas menina, fico muito feliz a cada vez que tenho que fazer esta
parte do meu trabalho!
-As minhas
coisas?<disse surpresa>
-Sim minha
filha, parabéns por se livrar deste lugar!... E faça sempre o possível para não
ter que voltar nunca mais!
-Eu vou
embora?... Eu vou embora daqui?
-Vai minha filha!<a abracei sem conter as lagrimas>
Ela me
indicou uma sala para que eu tomasse banho e me trocasse, e assim eu fiz.
Enquanto estava no banho fiquei pensando em como seria as condições da minha
liberdade, se era por habeas corpus como ele me prometeu, ou por fiança.
Resolvi
não pensar, e simplesmente aproveitar os últimos momentos em que iria ficar
naquele lugar, no qual de uma forma ou de outra eu tinha aprendido muita coisa.
Aprendi a dar ainda mais valor as pequenas coisas, notei que um dia em que você
não vê a luz do sol e terrível, e que eu precisava dela mais do que imaginava.
Terminei de
me arrumar e fui conduzida ate a saída da prisão aonde recebi os meus
acessórios, e os meus documentos. Senti as lagrimas correrem pelo meu rosto
assim que vi a luz através daqueles portões, sei que ainda faltavam os muros,
mas so de saber que não estava mais dentro de uma cela, pra mim já era o maior
presente que poderia receber.
A minha frente
tinha um carro de cor prata, e mais a frente um belo exemplar de cor preta, os
ignorei, estava tão feliz que não queria saber de nada. Fechei os olhos e
inalei o ar puro pela primeira vez em quase dois meses, so não era melhor do
que a brisa fresca que soprava no meu rosto. Estava distraída apreciando o meu
inicio de liberdade, e lembrando das coisas que a senhora "na qual eu não
perguntei o nome" quando entregou as minhas roupas dissera, que deveria fazer o
possível para não voltar para este inferno.
-Eu farei o
possível!<disse em voz relativamente alta>
-Posso saber
o que vai fazer, com todo este empenho?<me despertou dos meus
pensamentos>
-Vou tentar
ser feliz, e fazer de tudo para não voltar mais para este lugar!
-Estou muito
feliz em saber disso, e em ver que você esta tão feliz!
-Eu devo
isso a você Paul, você e incrível!<o abracei muito forte>
-Eu só
queria te ver longe deste lugar...
-Já podemos
ir embora, já resolvi tudo com o diretor!<disse o advogado nos
interrompendo>
-Muito
obrigada o senhor foi incrível!<disse apertando a sua mão>
-Imagina, só fiz o meu trabalho!
O Paul abriu
a porta do carro para que eu entrasse, e assim eu fiz, mal poderia imaginar que
estaria voltando para casa agora. Ele entrou no carro também, e em segundos
já estávamos nos dirigindo para fora daquele lugar, acho que nunca me senti tão
feliz.
-Esta me
ouvindo Holly?<disse me despertando dos meus pensamentos>
-Desculpa
Paul, eu estava pensando!<o encarei e sorri>
-Tudo
bem!... Eu perguntei para aonde voçe quer que eu te leve!
-Para casa,
eu vou te mostrar como se chega La!
-Voçe
pretende voltar para a boate?
-Eu ainda
não sei, mas provavelmente não...
-NÃO!
-Não Paul,
não tem como eu voltar pra La!... Eu tenho certeza que só fui parar na cadeia
por causa da Saueller!
-Voçe tem
razão!... Mas em que você vai trabalhar?
-Ainda não
sei...
-Voçe pode
continuar sendo a mesma coisa...
-Garota de
programa?
-Sim!... Mas de
luxo, você pode atender quem quiser, a hora que quiser, e aonde você quiser!
-Esta saída
da cadeia, me fez querer ter uma vida nova, seria uma boa oportunidade de sair desta
vida!... Acho que não quero voltar a ser GP!
-Pretende
voltar para o Brasil, ou lavar pratos em restaurante de beira de esquina?<o
encarei seriamente>... Infelizmente
acho que seria as suas únicas alternativas...
-Voçe esta
insinuando que não sou inteligente o suficiente para arrumar um emprego que me
pague bem?
-Não e isso
que eu quis dizer...
-Ou você
esta preocupado de eu te atender mais, e você “ficar no prejuízo” mediante ao
dinheiro que você pagou por mim?
-Não e assim
Holly...
-Esta
parecendo!
-Eu estaria
mentindo se te dissesse que estaria feliz, se você decidisse voltar para o
Brasil!... Eu te acho uma mulher incrível,e muito inteligente, mas não sei se
voçe se destacaria aqui!... Ao menos não em Vegas!
-E o que
você me sugere?
-Eu já
disse! <permaneceu com os olhos na estrada sem me encarar>
Será que eu
deveria fazer o que ele disse, “ser uma prostituta de luxo”? Será que eu
deveria voltar para o Brasil? O que eu faço?
Permaneci olhando pela janela, e
apreciando o lindo sol que fazia do lado de fora, apreciando a paisagem que
para mim era a melhor neste momento, afinal estou voltando para casa, que era
tudo o que eu mais queria neste momento.
O olhei por
alguns segundos, e ele estava com uma mão no volante, e o outro braço apoiado
na porta, parecia estar distraído, e muito pensativo, queria muito saber o que
se passa na sua cabeça neste momento, mas como não e possível, eu preferi
deixar ele com os seus pensamentos e voltar a minha leitura, coisa que me fazia
lembrar da Barb, será que um dia eu a veria novamente, ou chegaria a conhecer o
seu bebe, isso só o tempo iria me falar.
“Não da para
escolher se você vai ou não vai se ferir neste mundo, meu velho, mas é possível
escolher quem vai feri-lo. Eu aceito as minhas escolhas.” (A culpa e das
estrelas)
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