segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Freedon! cap 38

Não me lembro da ultima vez em que me senti tão feliz em toda a minha vida, o advogado parecia ser uma boa pessoa, e bem justo, ao menos era o que aparentava. Ele me encarou seriamente assim que nos sentamos um de frente para o outro, ele colocou a sua maleta em cima da mesa, e retirou algo que parecia ser um tablet, o ligou e após mexer em algumas coisas voltou a me encarar.

-Gostaria que você me contasse tudo o que você se lembra daquele dia!

-Tudo o que eu me lembro e o seguinte...

Comecei a contar a ele tudo o que eu me lembrava desde a visita da Saueller, ate a hora em que sai do hospital, ele anotou tudo o que lhe disse com dedos muito ágeis em seu aparelho eletrônico, que segundo ele era uma bela ferramenta de trabalho. 
Depois de mais ou menos trinta minutos de conversa, fato que só era permitido com os advogados. Ele disse que já tinha o suficiente, e que conseguiria montar uma defesa forte para mim, e que no mesmo dia ele iria fazer a petição do meu habeas corpus, ou a minha liberdade provisória mediante ao pagamento de fiança.
Retornei para a minha cela, e para a minha surpresa já não estava mais sozinha, tinha acabado de chegar uma detenta para dividir aquele minúsculo espaço comigo. Assim que entrei, ela me encarou seriamente, fazendo uma cara de ma, que me fez arrepiar, provavelmente não seria a sua primeira vez na cadeia.

-Ola!<disse tentando ser no mínimo amigável>

Ela simplesmente me encarou seriamente, acho que se ela pudesse me comeria viva naquele momento.  Resolvi ficar na minha e manter o minimo contato com ela, ja que ela não queria conversa, eu que não iria tentar puxar assunto.
Me sentei na cama e peguei novamente o meu livro, era a única coisa que me restava fazer neste momento, ler, tentar colocar a minha cabeça no lugar, torcer, e esperar a resposta do habeas corpus.
Os dias se passaram, e a convivência com a Calixta (Era a única coisa que consegui retirar dela ate agora, alem de saber que estava aqui por ter assassinado o seu ex-marido) não tinha evoluído muito, ela era uma mulher fechada, e com uma carranca enorme.
Já estava indo para o segundo mês que estava presa, e parecia que nada havia mudado, e que todo mundo tinha se esquecido de mim dentro daquele lugar, pois não tinha recebido mais nenhuma visita desde a ultima vez em que recebi o advogado. A Calixta era uma mulher muito rude e extremamente cruel, ela conseguia tudo através da agressão, já tinha perdido as contas de quantas vezes tínhamos brigados por coisas bobas como um creme dental, e as vezes que sai no prejuízo com um olho roxo, ou com a face marcada, mas nunca arreguei para ela.
Estávamos voltando do banho de sol, tinha acabado de entrar na cela quando uma das policiais carcerarias apareceu nas grades, e disse para que arrumasse as minhas coisas se dar mais nenhuma explicação. Ela saiu e eu arrumei as minhas coisas assim como ela havia me pedido, eu não imaginava o que poderia ser, quem sabe a mulher enjoou da minha cara, e pediu para que me transferissem de cela antes que ela me matasse.
Terminei de arrumar as minhas coisas, e fiquei sentada na cama a espera de seu retorno, cada minuto era horrível e extremamente desgastante, eu ficava agoniada e com medo do que poderia ser, com medo do que elas iriam fazer comigo. Depois de mais ou menos uma hora ela retornou, abriu a cela e pediu que eu a seguisse, e assim eu fiz. Seguimos corredor a dentro, e chegamos em uma espécie de escritório, ela mandou que deixasse as minhas coisas ali e me sentasse, ela saiu e em seguida uma senhora de idade com um semblante simples, aparentando ser uma boa pessoa, entrou com algumas coisas envoltas em um saco plástico, e me entregou.

-Aqui estão as suas coisas menina, fico muito feliz a cada vez que tenho que fazer esta parte do meu trabalho!

-As minhas coisas?<disse surpresa>

-Sim minha filha, parabéns por se livrar deste lugar!... E faça sempre o possível para não ter que voltar nunca mais!

-Eu vou embora?... Eu vou embora daqui?

-Vai minha filha!<a abracei sem conter as lagrimas>

Ela me indicou uma sala para que eu tomasse banho e me trocasse, e assim eu fiz. Enquanto estava no banho fiquei pensando em como seria as condições da minha liberdade, se era por habeas corpus como ele me prometeu, ou por fiança. 
Resolvi não pensar, e simplesmente aproveitar os últimos momentos em que iria ficar naquele lugar, no qual de uma forma ou de outra eu tinha aprendido muita coisa. Aprendi a dar ainda mais valor as pequenas coisas, notei que um dia em que você não vê a luz do sol e terrível, e que eu precisava dela mais do que imaginava.
Terminei de me arrumar e fui conduzida ate a saída da prisão aonde recebi os meus acessórios, e os meus documentos. Senti as lagrimas correrem pelo meu rosto assim que vi a luz através daqueles portões, sei que ainda faltavam os muros, mas so de saber que não estava mais dentro de uma cela, pra mim já era o maior presente que poderia receber.
A minha frente tinha um carro de cor prata, e mais a frente um belo exemplar de cor preta, os ignorei, estava tão feliz que não queria saber de nada. Fechei os olhos e inalei o ar puro pela primeira vez em quase dois meses, so não era melhor do que a brisa fresca que soprava no meu rosto. Estava distraída apreciando o meu inicio de liberdade, e lembrando das coisas que a senhora "na qual eu não perguntei o nome" quando entregou as minhas roupas dissera, que deveria fazer o possível para não voltar para este inferno.

-Eu farei o possível!<disse em voz relativamente alta>

-Posso saber o que vai fazer, com todo este empenho?<me despertou dos meus pensamentos>

-Vou tentar ser feliz, e fazer de tudo para não voltar mais para este lugar!

-Estou muito feliz em saber disso, e em ver que você esta tão feliz!

-Eu devo isso a você Paul, você e incrível!<o abracei muito forte>

-Eu só queria te ver longe deste lugar...

-Já podemos ir embora, já resolvi tudo com o diretor!<disse o advogado nos interrompendo>

-Muito obrigada o senhor foi incrível!<disse apertando a sua mão>

-Imagina, só fiz o meu trabalho!

O Paul abriu a porta do carro para que eu entrasse, e assim eu fiz, mal poderia imaginar que estaria voltando para casa agora. Ele entrou no carro também, e em segundos já estávamos nos dirigindo para fora daquele lugar, acho que nunca me senti tão feliz.

-Esta me ouvindo Holly?<disse me despertando dos meus pensamentos>

-Desculpa Paul, eu estava pensando!<o encarei e sorri>

-Tudo bem!... Eu perguntei para aonde voçe quer que eu te leve!

-Para casa, eu vou te mostrar como se chega La!

-Voçe pretende voltar para a boate?

-Eu ainda não sei, mas provavelmente não...

-NÃO!

-Não Paul, não tem como eu voltar pra La!... Eu tenho certeza que só fui parar na cadeia por causa da Saueller!

-Voçe tem razão!... Mas em que você vai trabalhar?

-Ainda não sei...

-Voçe pode continuar sendo a mesma coisa...

-Garota de programa?

-Sim!... Mas de luxo, você pode atender quem quiser, a hora que quiser, e aonde você quiser!

-Esta saída da cadeia, me fez querer ter uma vida nova, seria uma boa oportunidade de sair desta vida!... Acho que não quero voltar a ser GP!

-Pretende voltar para o Brasil, ou lavar pratos em restaurante de beira de esquina?<o encarei seriamente>... Infelizmente acho que seria as suas únicas alternativas...

-Voçe esta insinuando que não sou inteligente o suficiente para arrumar um emprego que me pague bem?

-Não e isso que eu quis dizer...

-Ou você esta preocupado de eu te atender mais, e você “ficar no prejuízo” mediante ao dinheiro que você pagou por mim?

-Não e assim Holly...

-Esta parecendo!

-Eu estaria mentindo se te dissesse que estaria feliz, se você decidisse voltar para o Brasil!... Eu te acho uma mulher incrível,e muito inteligente, mas não sei se voçe se destacaria aqui!... Ao menos não em Vegas!

-E o que você me sugere?

-Eu já disse! <permaneceu com os olhos na estrada sem me encarar>

Será que eu deveria fazer o que ele disse, “ser uma prostituta de luxo”? Será que eu deveria voltar para o Brasil? O que eu faço? 
Permaneci olhando pela janela, e apreciando o lindo sol que fazia do lado de fora, apreciando a paisagem que para mim era a melhor neste momento, afinal estou voltando para casa, que era tudo o que eu mais queria neste momento.
O olhei por alguns segundos, e ele estava com uma mão no volante, e o outro braço apoiado na porta, parecia estar distraído, e muito pensativo, queria muito saber o que se passa na sua cabeça neste momento, mas como não e possível, eu preferi deixar ele com os seus pensamentos e voltar a minha leitura, coisa que me fazia lembrar da Barb, será que um dia eu a veria novamente, ou chegaria a conhecer o seu bebe, isso só o tempo iria me falar.

“Não da para escolher se você vai ou não vai se ferir neste mundo, meu velho, mas é possível escolher quem vai feri-lo. Eu aceito as minhas escolhas.” (A culpa e das estrelas)

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