Dei uma olhada rápida e na realidade tinha 4 mensagens, e 15
ligações perdidas, tanto dele como da Nina. Me sentei na cama e abri a primeira mensagem que tinha chegado.
“Mary
cadê você, atende o celular! P.”
Mesmo não querendo, e estando triste com tudo, foi impossível
conter o sorriso, ele estava de certa forma pensando em mim. Respirei fundo e
abri a segunda.
“Estou preocupado com
você, esqueceu que chegou hoje aqui em Los Angeles, e ainda não conhece muita
coisa, esta escurecendo!... Me retorna, me atende, ou simplesmente responda as
minhas mensagens! P”
Senti o meu coração acelerar, para uma mulher apaixonada já
e motivos para estar louca de vontade de correr para abraçá-lo. Olhei a terceira
mensagem, e esta era da Nina.
“Mary cadê você?... O
Paul esta praticamente surtando, estou vendo a hora dele colocar a policia
atrás de você!... E olha que eu não duvido!... Por favor de algum sinal de
vida, estamos preocupados!! N”
Tadinha da Nina, abandonei ela na cafeteria, e nem me
importei de falar nada para ela, mas também, estava tão atordoada, que nem
enxerguei nada a minha frente. Por fim abri a ultima mensagem.
“Acho que precisamos
conversar, e não e só sobre o que aconteceu na cafeteria, sobre outras coisas
também, mas para isso você precisa aparecer!... Esta chovendo muito, na
realidade o mundo esta caindo em forma de água, só me diz que esta bem, estou
realmente muito preocupado! P”
Senti um peso no peito ao ler esta mensagem, o que será que
ele queria falar comigo alem do que aconteceu na cafeteria? Bom, na melhor das
hipóteses, ele me mandaria de volta para o Brasil, que na realidade era o que eu
deveria ter feito, ir embora, e não ter cedido a ele, eu sabia que seria assim,
eu seria uma mera prostituta, e nada mudaria. Senti aquela mesma pontada no
seio, mas junto dela uma dorzinha meio chata, mas desta vez no coração, o que
será que pode ser, nunca me senti apaixonada por alguém antes. Ta já estive, antes
era coisa de criança, mas agora, me sinto dependente dele.
Me levantei e segui para o banheiro, enquanto tomava o meu
banho, decidiria o que iria fazer da minha vida, quem sabe não daria um jeito
de me instalar aqui em Los Angeles, e continuar com o que eu sei fazer, vender
o meu corpo.
Depois de uns minutos ouvi um novo alerta de mensagem, me apressei
para terminar, segui para o quarto, peguei o aparelho e era dele novamente.
“Olha, eu sei que
você deve estar extremamente triste com tudo o que aconteceu, por isso, eu
espero que esteja bem, vou esperar você se acalmar, e voltar para o
apartamento, eu vou estar aqui a sua espera!... So queria saber aonde você esta
com toda esta chuva! P”
Senti os meus olhos marejarem, na
realidade o que eu queria era chorar ate amanha, não sei por que estou me
sentindo assim, não sei por que sinto que tudo ao meu redor vai desabar a
qualquer momento, isso me assusta. Fui interrompida por batidas na porta.
-Pode entrar!<disse passando
as mãos nos olhos rapidamente>
-Já terminou?<disse colocando
apenas a cabeça para dentro>
-Já!<sorri>... So estou
olhando umas mensagens!
-Nos precisamos conversar não e?
-Sim, precisamos!<o
encarei>... Entra!
-Ainda não compreendi o fato de
você não ter aonde morar!... Como você veio parar aqui?
-Bom, e uma longa historia!
-Temos uma semana!<sorriu se
deitando na cama>
-Não, temos só ate parar de chover!...
Quando parar eu vou embora!
-E vai para onde?<sorriu
irônico>... Olha, eu posso tentar alugar algo pra você se estabelecer...
-Não, não precisa, eu vou voltar
para o Brasil provavelmente!
-Voltar?... Você não pode!
-Por que não?<ele sentou e olhou
dentro dos meus olhos>
-Eu preciso de você!<disse em
um tom mais baixo>... Eu ainda não tinha me envolvido com outra mulher desde
que me casei, eu ia sempre à boate, mas nunca repetia a mesma mulher sabe, mas
você, com você foi diferente, é diferente, eu sinto algo a mais, e eu não quero perder
isso...
-Voçe prestou atenção no que esta
falando?... Eu não sou mulher para homem nenhum, eu sou uma prostituta que não
tem aonde cair morta!...A minha vida não e estar com uma pessoa apenas Justin,
eu preciso estar com um hoje, e outro amanha para conseguir me sustentar, pagar
as minhas contas, viver, eu não sei fazer outra coisa, eu não sei viver de
outro jeito...
-Calma, não e assim também, se
você quiser não precisa mais seguir nesta vida...
-E o que eu faria?<me levantei
o encarando>
-Você e uma mulher incrível,
sensível, de um coração enorme, e capaz de ter o homem que desejar
-NÃO, EU NÃO POSSO!... Tanto não
posso que não tenho!
-Você ama alguém?<não disse
nada>... Ama alguém Mary?<permaneci quieta>
Ele veio em minha direção e segurou em meu
braço me fazendo olhar para ele, os seus olhos invadiram os meus, me passando
uma paz incrível e inexplicável. Os meus ombros relaxaram, e parecia que todo o
meu corpo iria desabar em seus braços, eu o abracei forte, estava precisando de
um abraço, de um pouco de alivio para a minha alma.
-Você gosta de
alguém?<insistiu na pergunta>
-Sim!
-Quem?
-Não quero falar sobre isso, por
favor!
-Eu só queria saber!<segurou
em meu braço me encarando>
-Por que e tão importante pra
você?
-Eu so quero te ajudar Mary!...
Porra para de ser arredia, eu estou aqui tentando te oferecer um apoio, e você
esta sempre na retaguarda, sempre recuando!... Acima de qualquer coisa eu quero
ser o seu amigo!
-Eu sei me desculpe!... Mas e que
eu realmente me apaixonei por um cliente, mas eu não posso nem pensar em levar
isso à frente, é arriscado!... E ele não merece uma mulher como eu...
-Uma mulher como você?... Uma
mulher linda, forte, corajosa, que e dona do seu próprio nariz, que sabe como
tratar um homem muito bem, eu acho que não precisaria... Espera ai, você disse
um cliente?
-Sim!... Mas não e você, fica
tranqüilo!
-Que pena!<sorrimos>
-Você e maravilhoso Justin, mas
tem um péssimo defeito para uma mulher que quer sair desta vida!
-Qual?<me encarou>
-E casado, e muito bem
casado!<sorrimos>
Depois deste papo meio tenso, no
qual eu não disse nem quem era o tal cliente, e nem o motivo de estar sem ter
aonde ir, ele me chamou para enfim ver o filme. Seguimos para a sala, e
decidimos ver um filme de terror, e como este e um gênero que não me agrada
muito, fiz questão de não prestar atenção, não queria acordar no meio da
madrugada tendo a sensação de ter alguém me alisando, aproveitei o tempo para
pensar melhor em tudo, e decidi, fazer a coisa certa.
Acordei com o sol batendo no meu
rosto, parece que a chuva tinha realmente dado uma trégua. Pequei o meu
telefone, e olhei a hora, tinha acabado de passar das oito da manha. Me virei
na cama olhando para um dos lados do quarto, e me deparei com a minha roupa
devidamente passada, e esticada na cadeira da penteadeira do quarto, a olhei
arqueado a sobrancelha, isso não e bom, não queria causar problemas a ninguém,
e ate onde eu sei, o Justin não sabe passar roupa. Ou sabe?
Me levantei e decidi tomar um
banho para espantar a preguiça, afinal o meu dia seria longo eu acho, se tudo
acontecer como eu imagino, embarco hoje mesmo para o Brasil. Assim que
terminei de colocar a roupa bateram na porta, abri e era ele perguntando se não
iria tomar café, disse que não precisava, e que alias já estava de sida.
-Mas pra onde você vai?
-Não se preocupe comigo, eu vou
ficar bem!
-Como não?
-Acredite, o dia esta lindo, e eu
sei que ele guardara o melhor pra mim hoje!
-Se você diz!... Qualquer coisa e
so me ligar!<pegou o telefone que estava nas minhas mãos, e anotou o seu
numero>
-Pode deixar, eu
ligarei!<sorri>
-Agora vamos tomar café!
-Mas eu...
-Sem discussão!
Peguei a minha bolsa e descemos
para o café. Depois do café ele me perguntou se eu queria uma carona para algum
lugar, eu disse que estava tudo bem. Antes de sair, ele me levou ate a porta,
perguntou se queria algum taxi, e desta vez eu aceitei, afinal não tinha noção
da onde estava. Depois de uns 10 minutos o taxi pareceu, nos despedimos
normalmente como amigos, afinal estávamos em “publico” entrei no taxi, peguei
um papel na bolsa onde estava o endereço do apartamento e o entreguei, ele
ligou o carro e em seguida pegou a primeira saída do condomínio, olhei pra trás
e ele estava parado no portão, provavelmente esta foi a ultima vez que o vi.
Segui o caminho inteiro olhando
pela janela, estava tensa com a possível conversa que teria com o Paul, eu não
sei o que ele queria ao certo comigo, e confesso que esta incerteza estava
martelando na minha cabeça. Depois de mais uns 20 minutos ele parou em frente
ao prédio, paguei a corrida e o agradeci saindo do carro em seguida, entrei e
me identifiquei como moradora, e o porteiro liberou a minha entrada, peguei o elevador
e o meu coração deu uma breve disparada, assim que parei rente a porta, as
minhas mãos suaram, e a minha boca secou, merda eu estava tensa.
Coloquei a chave na
fechadura, e parecia que iria salvar a minha mãe da guerra de tão tensa que
estava. Que Deus a tenha. Abri a porta e
a sala estava vazia, entrei e a fechei atrás de mim, dei alguns passos
adentrando melhor na sala, e pude vê-lo sentado na varanda, com o celular em
uma das mãos, e a outra apoiando a cabeça, de costas pra mim. Coloquei a bolsa
no sofá e respirei fundo, ele elevou a cabeça virando o rosto de lado, se virou
completamente, e se levantou ao me ver.
-Mary?... Aonde você
estava?<veio em minha direção me dando um abraço forte>.. Eu estava preocupado,
não preguei os olhos!<se desvencilhou de mim>
-Desculpa, mas eu precisava de um
tempo...
-Ta, mas custava retornar as
minhas ligações e as mensagens?
-Já pedi desculpa!<disse meio
seca>... Eu só voltei para pegar as minhas coisas!<disse me afastando
dele>
-Pegar?... Aonde você vai?
-Embora, e o melhor que eu
faço!<segui em direção ao quarto onde estavam as minhas coisas>
-Ou melhor?... Aonde você
vai?... Por acaso nesta noite que passou fora já arrumou um novo servicinho a "la Lust”?<se referiu a boate>
-Não Paul!<entrei no quarto, e
ele atrás de mim>... Eu não arrumei nada, mas não quero ficar aqui as suas
custas...
-Mas nos já não tínhamos
combinado que você...
-E MAS NÃO DA!... Depois do que
aconteceu na cafeteria, eu...
-Ainda não acredito que você sumiu só por
causa de ontem!
-Mas e lógico, vocês dois estavam
de risinhos, trocas de olhares...
-Mas e daí?... Eu sou descompromissado!
Ele tinha toda razão, ta certo,
ele e solteiro, bonito, bem sucedido, chama a atenção aonde passa, e lógico
causa alvoroço nas mulheres. Porem...
-Você esta certo, e sim voçe e descompromissado, mas
perante a sociedade nos somos namorados ou esqueceu-se daquele dia na
festa?<ele colocou a mão na cabeça, e baixou o olhar>... E ela sabe
disso, não e a toa que ela foi à sua casa naquele dia, e me enfrentou, pra ela
nos somos namorados, e ela só estava te esfregando na minha cara!... Ela não te
ama!<desabafei o encarando>
-Você tem razão, eu estou sendo
um idiota, e eu esqueci completamente daquele dia, para a sociedade nos somos
um casal!<ele me encarou>... Mas mesmo assim, isso era motivo para você
vir pra casa e se entupir de sorvete como toda boa namorada!... Por que sumiu, e aonde ficou com toda aquela
chuva?
-Eu fiquei com vergonha, e dormi
em um hotel!<uma parte era verdade, e a outra logicamente mentira>... Eu
acabei fazendo um vexame na cafeteria, e eu sei que você não gosta disso!... Eu
fiquei com medo de você ter ficado com raiva de mim, e me mandar ir embora...
-Claro que não Mary, eu não sou
um cafajeste!... Apesar de ter feito papel de um, mas a culpa foi minha!<o
encarei, ele estava assumindo algo?>... Eu não deveria ter feito o que fiz
com você!<se aproximou, será que ele vai dizer que esta apaixonado por mim
como estou por ele?>... Não deveria ter feito você se passar por minha
namorada naquele dia, eu acho que fiz somente para fazer ciúmes na Andrea!
O meu queixo foi ao chão, mas o
que eu poderia fazer, ele estava certo, a culpa foi minha, eu preciso mesmo
aprender, levar na cara, e saber que não sou mulher para um homem só, não sou
capaz de fazer um homem feliz, pelo resto da vida, somente por um dia e olhe
la. Senti o meu peito apertar, mas o que eu poderia fazer, absolutamente nada,
a não ser aceitar a minha realidade.
Ele me pediu desculpas novamente,
e claro eu aceitei, insisti para ir embora dos Estados Unidos, mas ele disse
que seria melhor para mim que eu ficasse (Mas isso era para mim, ou para ele?).
Depois de um pouco de insistência da sua parte, eu concordei, ele disse para
que eu entrasse em contato com a minha irmã no Brasil, que ele mandaria a
passagem para ela vir ficar comigo em Los Angeles, e para todos os efeitos, seriamos amigos, e
sempre que quiséssemos ficar juntos iríamos a um hotel, por isso combinamos que
nada de clientes no apartamento (Mas isso seria obvio afinal, eu não sou idiota
de colocar homens no apartamento em que moro com a minha irmã mais nova).
Ele disse que teria um
compromisso em quatro horas em Las Vegas, e precisaria ir embora, já tinha
mandado a Nina ir na frente para ir adiantando tudo, por isso não poderia ficar
comigo esta semana, e que só voltaria semana que vem, ou na outra.
-Você vai ficar bem?<disse ja
na porta segurando o meu rosto com as duas mãos>
-Vou!
-Promete me ligar se acontecer
algo?
-Prometo!
-Não fica brava comigo!
-Não estou!
-Vou fingir acreditar!<me deu
um selinho demorado>... Se cuida!<disse rente a minha boca>
-Você também!
-Deixei um dinheiro na comoda para fazer compras, e ir se mantendo ate voçe voltar a trabalhar!<no caso voltar a me vender>
-Não precisa...
-Ja deixei!... Agora eu vou indo!
Ele deu as costas, pegando o
elevador em seguida, eu entrei e fechei a porta apoiando a cabeça na mesma,
olhei ao meu redor, e agora eu tinha um lugar fixo para estar, de certa forma
isso era bom pra mim.
No decorrer da semana, eu
terminei de ajeitar a casa, e colocá-la do meu jeito, ou tentar deixá-la com a
minha cara, pela primeira vez eu tinha um lugar só meu, e de certa forma isso
me deixou feliz por ter ficado mais uma vez, talvez o meu lugar não seja mais no
Brasil.
Depois quase uma semana acomodada
no apartamento, notei que ainda tinha que fazer algo importantíssimo, compras de
mercado. Eu estava fazendo tudo aos poucos, e parecia que nada rendia naquela
casa, então decidi tomar um banho e ir no mercado mais próximo, por que ficar comprando as coisas aos poucos, e comprando refeiçoes prontas e pizzas uma honra enjoa.
Depois de quase tudo que eu
precisava no carrinho, decidi pegar um sorvete, as vezes não tem nada melhor do
que um delicioso sorvete para alegrar o dia. Abri o freezer, e escolhi o sabor
chocolate, que por sinal era o ultimo que tinha. Assim que o peguei, o gelo que estava em volta do pote fez os
meus dedos escorregarem, fazendo o pote deslizar da minha mão e ir de
encontro ao chão.
-Peguei!<ouvi uma voz masculina
amparando o meu belo, delicioso, e ultimo pote de sorvete de chocolate>
-Obrigada!<sorri me virando
para ver quem era o meu herói>
-Mary?
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