Acordei durante a madrugada no susto com um movimento bruto
na cama, abri os olhos vendo um vulto passar as pressas em direção ao banheiro,
mal acendendo a luz, me levantei no mesmo ritmo, no susto, sentindo o meu corpo
inteiro tremer devido a velocidade que eu me levantei da cama, parei por um segundo
fechando os olhos esperando o meu corpo se estabilizar. Entrei no banheiro e
ela estava com as mão apoiadas na parede e com o rosto na direção do sanitário,
me aproximei dela, mas senti o seu corpo recuar, cocei a cabeça meio que sem
saber o que fazer, mas ignorando completamente o seu afastamento decidi me
aproximar do mesmo jeito e em seguida ela teve mais um enjoo.
Eu estava ali
preparado para o que ela precisasse, sendo a situação boa ou não. Depois de já
se sentir melhor eu acho, ela higienizou a boca escovando os dentes, e passando enxaguante bucal, entreguei a ela uma toalha de rosto para que enxugasse a boca e o rosto no qual ela lavou, e em seguida retornamos para a cama. Nos deitamos na mesma
posição, porem agora me uni um pouco mais ao seu corpo, a trazendo para mais
próximo do meu.
-Esta tudo bem amor?<perguntei rente ao seu ouvido>
-Esta!<disse simplesmente>
-Quer um pouco de água, alguma coisa?
-O meu estomago esta embrulhado, não quero nada!<pareceu
tristonha, ou simplesmente com sono>
Não respondi nada, apenas apertei um pouco mais o meu abraço
ao seu redor, sentindo ela se aconchegar em meu peito, e não sei depois de
quanto tempo adormeci.
Acordei com o mesmo susto, e mais uma vez a segui ate o
banheiro, ela me olhou e simplesmente revirou os olhos, parecia se punir por me
acordar novamente, a ajudei mais uma vez a fazer toda a sua higiene antes de
seguirmos para a cama. Tentei me manter alerta para se caso ela passasse mal
novamente, eu já tivesse acordado, e ela não se punisse mais uma vez. Mas in felizmente foi
impossível, eu estava muito cansado pois tínhamos acordado cedo para irmos ao
medico, e eu acabei adormecendo.
Mais um susto durante a madrugada, coloquei a mão no peito e
me sentei na cama para levantar, e antes que eu pudesse fazer qualquer movimento, para me levantar, a ouvi "grunhir" um “não” antes entrar
no banheiro. Apoiei os cotovelos na perna e a cabeça entre as mãos, era tão ruim
vê-la passando tanto mal assim durante a madrugada, o que me intrigava e que na
noite anterior, ela não se levantou passando mal nenhuma vez durante a
madrugada, e esta já era a terceira vez acho que em 2 horas ou menos.
Ouvi-a resmungando
baixo seguido de um suspiro profundo, ela parecia completamente desgastada pela
noite mal dormida. Depois de um tempo eu me recostei na cabeceira da cama
sentindo os meus olhos arderem, mas desta vez era de sono, eu estava realmente
cansado fisicamente, afinal tinha praticamente acabado de chegar de viagem,
fechei os olhos por alguns segundos ate a ouvir sair do banheiro. Abri os olhos
e a vi seguindo calmamente ate a cama, ela praticamente se arrastava, parecia lutar contra o seu próprio corpo, contra as suas pernas.
Ela se deitou ao meu lado novamente apoiando pesadamente a cabeça no travesseiro, mas
desta vez se virou de frente para mim de frente para mim, passou o seu braço pela minha cintura como se
pedisse me colo praticamente, e assim eu fiz. Deitei novamente me acomodando ao seu lado, passando
as mãos pelos seus ombros.
-Tem certeza que esta tudo bem?<perguntei preocupado>
-Esta sim amor, e efeito de mais uma troca de
medicamento!<disse se acomodando mais>... Desculpa por estar te
acordando!<disse pesarosa>
-Esta tudo bem amor, eu só estou... Preocupado!<disse sentindo o seu corpo relaxar rente ao meu>
Nos acomodamos mais uma vez, olhei no relógio e acabara de
marcar 04:22 da manha, respirei fundo, e assim que senti os primeiros indícios que ela tinha pego no sono, deixei me levar, e mais uma vez senti o sono me tomar.
Durante aquela madrugada a Mary passou mal no mínimo mais
umas 3 vezes e desta vez ela me impediu ate de me sentar na cama, eu apenas
virei o rosto acompanhando os seus passos acelerados ate o banheiro. Na realidade ela, ela só levantou
mais esta unica vez, por que depois disso ela não voltou mais para a cama, ela ficou no banheiro passando mal seguidas vezes e completamente sozinha. Eu tentei
ir ate o banheiro, ver se ela precisava de algo, mas ela me impediu,
simplesmente não me deixou mais entrar no banheiro fechando a porta na min ha cara praticamente, e eu simplesmente a respeitei. Eu passei o resto da
madrugada ouvindo ela passar mal, sem que me deixasse fazer nada, me senti completamente perdido, sem saber o que poderia ou não fazer.
Já com o dia claro, notei que fazia algum tempo que ela não
enjoava, e achei estranho. Eu estava recostado na cama olhando algo aleatório na
TV que tinha ligado por volta das 5 da manha, eu tinha deixado a TV bem baixinho
para que eu a pudesse ouvisse caso me chamasse.
Olhei no relógio e ja era mais de 06:20 da manha, e mesmo sabendo que iria contrariá-la, me
levantei e fui ate o banheiro sorrateiramente, coloquei apenas o meu rosto
para dentro, e a vi soluçando em um choro baixo quase reprimido, um choro
contido, e cheio de dor. Baixei o olhar para em seguida entrar no banheiro, me
aproximei dela, mas ela se recuou um pouco passando a mão no rosto violentamente
como se não quisesse que a visse chorar. Abaixei-me a sua frente me sentando em seguida, ela desviou
o olhar dos meus, procurei incessantemente por eles, e assim que eles se cruzaram, ela enfim permaneceu
imóvel.
-Me desculpe por não te deixar dormir!<disse calmamente,
desviando novamente o olhar>... Você deveria estar descansando...
-Eu deveria estar aqui com você, cuidando de vocês,
segurando a sua cintura sustentando o seu corpo para que não tivesse sentada
neste chão frio, porem, você me impediu ate de entrar no banheiro...
-Queria que você tivesse dormindo, e não acordado ate esta
hora com a TV ligada no mudo para que ao mesmo tempo que te impedisse de dormir, te deixasse alerta esperando o meu grito de socorro!<sorri brevemente e me
sentei a sua frente>
-Eu nunca me imaginei sentado no chão frio do banheiro as seis e pouca da manha!<sorri irônico>
-Mais uma coisa idiota que te fiz passar...
-Mas acredite, não tem outro lugar onde eu queria estar!...
Na realidade ate tem, na minha cama, mas só se você tivesse la!<deu um sorriso
contido>... Escuta meu amor!Mordi o lábio inferior, me aproximando ainda mais do seu corpo>... Eu não quero que se sinta um estorvo, não quero
que ache que esta me atrapalhando, ou me incomodado de qualquer forma que seja,
pois não esta, tudo o que faço, e por você, e de coração, e não e só por você,
e pela nossa pequena, e por que eu as amo, e por que eu fico perdido se não
estou perto de vocês!<disse acariciando a sua mão>... Promete para mim
que vai parar com isso?
-Uhum!<afirmou com a cabeça>
-Eu não ouvi nada!<disse desviando a mão para acariciar o
seu o rosto>
-Tudo bem!... Vou aproveitar da sua companhia enquanto eu
posso, afinal, eu não sei o meu dia de amanha...
-La vem você de novo com isso de...
-Desculpa, me perdoe, mas tente entender!<encarou os meus olhos com dor>... E difícil para
mim saber que posso morrer a qualquer momento, saber que sou uma bomba relógio prestes a explodir...
-Queria que tentasse parar de pensar nisso, mesmo sendo difícil!<ela desviou o olhar dos meus> Você vai ficar boa, eu sei disso...
-O MEDICO DO BRASIL SÓ ME DEU 6 MESES SE EU NÃO ME TRATAR, E O MEDICO DAQUI CASO VOCÊ NÃO TENHA NOTADO, NÃO DISSE NADA DE ANIMADOR...<se exaltou>
-Justamente!<me levantei da sua frente ignorando a sua explosão>... Para pra pensar amor, você vai ter a nossa filha daqui a um mês, e você terá 4 meses e pouco para
fazer o tratamento e se curar!<parei a sua frente e olhei para ela que
permanecia sentada no chão>
-Eu não sei Bruno!<disse mais contida>
-Como não sabe?... Isso e uma coisa obvia amor, assim que
você tiver a nossa filha, você fará a
quimioterapia, e enfim estará curada!
-Talvez você tenha razão!... Mas as coisas não são tão fáceis assim...
-E claro que tenho!<ignorei o seu pensamento negativo>... Você vai ficar boa meu amor!... Agora
vamos para o quarto tentar descansar!
-Mas e se...
-Se o que Mary?<a encarei novamente>
-Se o tumor tiver crescido mais?... E se ele tiver tão
grande que não puder se reverter?... E se eu não suportar as sessões...
-E se, e se, e se, e se... Nossa mas quanto pensamento negativo Mariane, mas que merda!... Para com isso, por favor!
-Tudo bem, eu vou tentar pensar mais positivo!... Por você!
-Não, não só por mim, mas por você, pela nossa filha, pela
sua irma, e por todos que te amam!
-Obrigada por estar ao meu lado!... Por ter paciência comigo, e me desculpe por gritar com voçe!
-Para sempre meu amor!<a abracei>... Esta desculpada!<disse rente ao seu ouvido e senti a sua pele se arrepiar>... Agora vamos para
o quarto descansar um pouco!<me levantei e sai do banheiro>
Fiquei tão feliz com esta possibilidade que ate então
ninguém tinha pensado, ou não tinham percebido diante do choque que foi imaginar a sua morte em tão pouco tempo. E era uma coisa tão obvia, se ela teria a nossa filha em
um mês, lhe restariam mais 4 meses e poco para o tratamento, e sem duvidas ela
sairia bem desta.
-Bruno!<a ouviu me chamar e me toquei que sai do banheiro
sem ajudá-la a se levantar>... Desculpa, mas será que você poderia me ajudar
a desencalhar?
-Desculpa minha "baleiazinha", eu fiquei tão empolgado que,
esqueci de te ajudar!<disse com um sorriso sem jeito a ajudando a se
levantara>
-Baleiazinha Bruno?<ela me encarou seria>... Assim
enfraquece a relação poxa!<disse e esboçou um sorriso>
-Voçe que disse que estava encalhada, e quem encalha e
baleia!<ela virou para mim e me soltou um olhar fulminante>... Desculpa,
não esta mais aqui quem falou!<sorri baixo>
-Bem que eu queria estar mesmo uma baleia, seria melhor do
que estar em pele e osso!!<resmungou e eu preferi não comentar>
Seguimos para a cama e nos acomodamos bem juntinhos, estava
sentindo o meu corpo cansado, talvez pela noite mal dormida, ou ainda pelo cansaço da viagem na qual ainda não tinha conseguido me recuperar completamente,
mas definitivamente estava sem sono, estava preocupado dela passar mal
novamente, e estava decido, que se ela passasse mal novamente iria levá-la ao hospital, ela querendo ou não.
Ela estava
aninhada ao meu peito com os olhos fechados, provavelmente dormindo, enquanto
eu estava assistindo o final de um filme qualquer, assim que ele acabou eu
desliguei a TV, e me acomodei na cama na intenção de não acordá-la, mas
infelizmente não rolou.
-Desculpa eu não queria te acordar!<lamentei>
-Eu não estava dormindo, relaxa!... Eu so estava pensando...
-Pensando em que?<me acomodei melhor a ela>
-Nada não amor, descansa!<se virou de frente para mim e acomodou
a cabeça no meu peito>
Como não tinha algo relevante para questionar, e
provavelmente eu já sabia em que ela estaria pensando, eu resolvi deixar com os seus tenebrosos pensamentos e tentar dormir um pouco.
Mary on
Eu não estava conseguindo dormir, depois de uma madrugada
longa, eu estava cansada, mas estava sem sono, e definitivamente não seria uma
boa ideia ficar na cama, seria capaz de acordar o Bruno que ja tinha conseguido pegar no sono, com a quantidade e vezes
que me movimentei na intenção de conseguir adormecer também, então resolvi me levantar.
á
passava das oito da manha quando eu tomei um banho rápido, e me troquei, olhar
para o sanitário me remetia a madrugada péssima,. e completamente desconfortável que passei neste banheiro.
Sai do quarto com os meus remédios que preciso tomar 3 vezes ao dia em mão,
e segui vagarosamente pelos corredores ainda
escuros da casa, indo ate a cozinha, de onde vi certa movimentação, parei na porta, e
fiquei sem jeito de entrar, mas a Beth me viu parada na mesma, e com um sorriso
encantador veio ao meu encontro.
-Bom dia, não sabia que já estava acordada!<disse me
encarando>
-Na realidade eu não dormi direito, tive uma noite longa, passei muito mal!<disse fazendo uma certa careta ao me lembrar da madrugada>
-Sinto muito!<disse sincera>
-Todo bem!
-Voçe quer tomar o seu café agora?
-Não, na realidade eu querias um, copo d’água para tomar os
meus remédios!<abri a mão mostrando os comprimidos para ela que encarou a minha
mão com os olhos saltados>
-Todos estes!<disse mais para si do que para mim>
-Sim!
-Vou pegar a sua água, fique a vontade!
-Obrigada!... Bom dia!<disse para as outras mulheres que
estavam na cozinha>
-Bom dia!!<todas me responderam prontamente em coro>
Ela se apressou com a minha água, eu a agradeci e perguntei
pelo Geronimo, ela me disse que ele estava na parte dos fundos da casa, eu
agradeci a sua informação, e enquanto caminhava ate o local que ela me indicou, e fui
ingerindo os meus medicamentos pelo caminho. Observei a luminosidade que invadia a casa pela
enorme porta de vidro na parte dos fundos, segui ate ela, a empurrando devagar e saindo em
seguida, dando de cara o belo jardim mantido próximo a piscina.Olhei para o outro lado e vi o Gege brincando com os seus brinquedinhos, e rolando na grama que provavelmente estava
bem gelada devido ao vento igualmente congelante que cortava a manha abril, em
plena primavera nos Estados Unidos.
Ele estava tão distraído que não notou a
minha presença no jardim, segui ate uma mesa de ferro, e me sentei em uma das
cadeiras, senti o meu corpo arrepiar devido ao gelo que estava, mas logo a
temperatura do meu corpo se adaptou ao gelo da cadeira de ferro. Cruzei as pernas e recostei no encosto da cadeira, abri um pouco o casaco que me aquecia,
e acariciei a minha barriga já bem aparente de 6 meses sob duas blusas que a cobria alem do casaco. Foi impossível não
impedir que passasse um filme em minha cabeça, de como e quando cheguei aqui pela
primeira vez, deslumbrada por ter visto a Kety Perry em Vegas, enquanto seguia
de carro para o apartamento com a Rubi. Rubi, como ela deve estar, a Laísa sei
que deve estar bem, ainda me lembro bem daquela festa, ela e um dos motivos de
ter sido uma das piores noites da minha vida, lembro como fiquei com medo de
encontrá-la estando próximo do Bruno, e
ela acabar falando alguma coisa sobre o nosso envolvimento, por que ele não tem
noção de que eu me envolvi com uma
mulher um dia.
Duas na realidade.
Mentiras, e coisas obscuras, passado escondido, coisas enterradas no fundo do meu inconciente, um bau que eu carregava no peito, que a cada dia parecia comprimir o meu coração de tal forma que me fazia sufocar. Será que isso
e uma coisa boa a se manter? Sera que eu deveria continuar escondendo o meu passado de um homem que diz me amar, e que esta disposto a fazer de tudo para me ver feliz? Provavelmente não. Mas será que e a coisa certa
desenterrar o passado e contar a ele tudo o que passei ate aqui, contar a ele
que sou uma ex presidiária, que tive uma overdose de heroína, que perdi um
filho, o meu passado e tão denso, tão
obscuro, que eu mesma tenho certa repulsa dele.
Sera que eu deveria desenterrar
este passado e dizer tudo isso para o homem que eu amo, e começar direito com
ele, começar do jeito certo, começar de cartas brancas, e começar uma nova
vida?
Mas e se ele não me aceitar depois de tudo isso, eu sou uma mulher cheia
de problemas, e cheia de duvidas, mas infelizmente eu não posso ficar pensando
demais, pois se seu pensar demais, eu acabo fazendo merda. E neste caso e continuando a viver na corda bamba.
-Oi garoto, nem te vi chegar!<disse alisando a cabeça do
Gege quando senti ele se aninhar em minha perna>... Como você esta hem?... Senti a sua
falta também garoto!<disse quando ele se ergueu colocando as patas
dianteiras na minha coxa>
-Vai acabar pegando um resfriado assim!<disse me dando um selinho, e sentando a
minha frente com duas xícaras na mão>... Cha?<me esticou uma xícara com um sorriso em um esticar de lábios revelando as suas covinhas>
-Obrigada!<olhei para ele e vi a oportunidade de contar
tudo a ele, e poder começar um relacionamento limpo com ele>...
Bruno!<chamei a sua atenção que estava voltada ao gege>
-O que foi amor?<segurou em minha mão que estava ao seu
lado>
-Eu preciso conversar uma coisa muito seria com voçe!
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