Consciência pesada! cap 125

Mary on

Bruno, este estava estranho, faz mais ou menos duas semanas que ele esta mais calado, mais distante, e não reclamava mais quando eu o convidava a se retirar do quarto como eu quase sempre fazia. Mas em compensação estava mais carinhoso, ao menos quando estávamos numa “Boa” ou no caso eu estava numa boa. Ele sempre estava ao meu lado segurando em minha mão, mas com o mesmo olhar distante, parecia que algo o incomodava profundamente, e acho que já o conheço o suficiente para desconfiar que ai tem coisa, isso esta cheirando muito mal, esta praticamente podre. E eu posso estar ficando paranoica, mas eu sinto que sei o que e. “Ele me traiu” Mulher sabe.

Não sei do que realmente se trata, mas tenho a leve impressão de que e exatamente isso que desconfio, e se for o que estou pensando, “Ele me trair” não sei o porquê dele não me contar, será que ele vai achar que eu vou fazer um escândalo, por que ele possivelmente tenha transado com outra mulher? Se realmente for isso, infelizmente não tem como cobrá-lo, e impossível cobrar fidelidade sendo que eu estava aqui presa a este hospital, presa a esta maldita cama alheia a qualquer coisa. Ele e homem, e infelizmente eles são assim, tem as suas necessidades, e pensam diferente de nos mulheres. Eu fui prostituta, conheço os homens como a palma da minha mão, e sei que se ele fez algo, foi por “necessidade”. Tirando que eu mesmo estava procurando por isso ao convidá-lo a se retirar do meu quarto, muitas vezes na base da ignorância, estava claro que uma hora ou outra ele iria procurar “abrigo” em outros braços. Homem nenhum suporta por muito tempo o que eu estava fazendo.

Três meses e 7 dias, este e o tempo que estou aqui dois meses dormindo, e um mês olhando para estas paredes brancas. Ao longo deste tempo recebi muitas visitas, alem da inesperada do Ryan, que voltou aqui a uma semana atrás dizendo que já estava tudo bem entre ele e o Bruno, me deixando de certa forma contente, afinal eles são amigos a anos. 
Recebi a visita do Mark, que me deixou extremamente feliz, e soube me colocar pra sima como ninguém. E claro, a Urbana, nossa como as suas visitas me fazem bem, geralmente ela vem de 4 a 5 vezes por semana, e fica horas aqui me fazendo sorrir, assim como a Cindiah, a Javoni, e as irmãs do Bruno claro, que sempre tentam intimar o doutor Michel a me dar alta hospitalar. 
Mas as visitas que sempre me deixam em estado de "graça" eram as da minha irmã, que esta se empenhando muito nos estudos, e a da minha princesa quando o Bruno a traz, ela sempre me faz feliz, muito feliz, faz os meus dias aqui dentro parecerem mais suportáveis, Quanto ao Bruno? Bom, este eu preciso reconhecer, ele veio todos os dias, bem, quase todos a não ser a duas semanas atrás que deixou de vir dois dias seguidos, e disse que estava se sentindo mal, e que parecia estar querendo ficar gripado, e para não correr o risco de não me passar nada, acabou não vindo. Se me convenceu? A va, claro, e 2+2 e 22. Ele esta me escondendo algo, e é em relação a tal suposta traição, que eu pretendo descobrir, e logo.

Acordei me sentindo um pouco melhor esta manha, ontem o doutor Bernard veio me ver, fizemos mais alguns exercícios, e eu já consigo mexer bem mais o meu braço, acho que já consigo ficar com a minha filha por mais tempo no colo. Minha filha, nossa já faz quase uma semana que o Bruno a trouxe, ela não podia vir sempre por ser um ambiente hospitalar, mas ele a trazia sempre que podia, alem de me mostrar fotos diariamente. Espero ansiosamente o dia em que vou poder ir embora deste lugar.

Bruno on

As noites já estavam bem mais tranquilas do que as que se sucederam ao dia em que a Angel veio para casa, ela já dormia a noite toda, e depois de muito custo consegui fazer com que ela dormisse sozinha no quarto dela. "Eita menina geniosa." No inicio eu a colocava no berço e ficava com ela ate que pegasse no sono, ou apenas observando para me certificar de que ela estava realmente dormindo. Mas agora eu a coloco la e saio do quarto sem preocupações.

Esta manha como em todas, eu acordei com os gritos dela pela casa, sorri ao ouvir o seu choro se intensificar, isso era sinal de que alguém a pegou no colo. Me sentei na cara e fiquei a espera de que provavelmente a Rose a trouxesse para mim, como em todas as manhas, e poucos minutos depois ela bateu na porta, disse que ela poderia entrar, e logo a porta se abriu.

-Bom dia papai!<disse sorrindo>

-Bom dia!

-Esta melhor hoje?<perguntou se referindo a ressaca braba que durou por dias, e acredite, ela so não esta pior do que a minha consciência>

-Nem um pouco!... Bom dia amor do papai!<digo esticando os braços para ela assim que segue o som da minha voz e me encara>... Dormiu bem meu amor?<pergunto como se ela pudesse me responder>

-Quando você vai contar a ela?<senti que ela estava me pressionando>

-Ela esta com tantos problemas Rose, as quimioterapias estão acabando com ela, já brigamos varias vezes, e eu não quero mais brigar com ela, não agora!<disse e dei um beijo no pescoço da minha bebe>... Agora eu só quero me concentrar na minha princesinha!

-Então começa dando de mamar a ela!<disse me entregando o seu leite>... A Cindiah disse que vira no mesmo horário de ontem, pois tem que levar a Mila no pediatra!<a acomodei no meu colo para que ela mamasse>... Por falar nisso a vitamina que a pediatra passou na ultima consulta já esta no final!

-Já?... Acho que temos que voltar la semana que vem!

-Dia 06 de julho, eu vi na carteira de vacinação!

-Nem me fala em vacina, eu quase chorei com ela ontem!<olhei para os seus olhinhos>... Ela chorou tanto!

-Ela nem gosta de chorar ne?

-Tadinha não fala assim da minha princesa!<sorrimos>... A Ingrid já foi para escola?

-A muito tempo, aquela ali esta se empenhando muito, ela sai cedo, volta no horário, estuda ate tarde!<sorriu>... Disse que quer deixar a Irma orgulhosa!

-Ela e uma garota incrível, vai longe!

-Vai mesmo!<disse e ouvimos o telefone tocar>... Vou atender e já venho para dar banho nela!

-Pode deixar que eu dou!

-Tem certeza?

-Absoluta, fica tranquila!

-Não e por que você aprendeu a trocar frauda, que já sabe dar banho...

-Eu me garanto Rose!... O telefone!<sorrimos ao ouvi-lo tocar novamente>

Ela saiu e eu continuei a dar a mamadeira a minha filha. Os seus olhinhos arregalados me encarando, e a sua mãozinha esticada para tocar o meu rosto, ela demonstra ser tão carinhosa quanto a sua linda mãe. A propósito, a cada dia que passa ela fica ainda mais parecida com a Mary, os seus olhos, o formato da sua boca, o seu sorriso, enfim, ela será uma copia fiel da mãe.

Assim que ela terminou de mamar, estava toda suada como sempre. A acomodei em meu colo, e fazendo arrotar enquanto iria para o seu quarto na finalidade de lhe dar um banho. 
Quando a coloquei no berço, ela não gostou muito, comecei a "conversa" com ela, que quando notou que eu estava por ali parou de chorar. Escolhi uma roupa para colocar nela depois do banho, e coloquei tudo no trocador. Segui para o banheiro do seu quarto, e enchi a sua banheira de água com a temperatura que ela esta acostumada a tomar banho. Depois de um mês em casa eu precisava saber ao menos o básico. Coloquei tudo ao meu alcance, segui ate ela novamente a pegando de dentro do berço, e tirando a sua roupinha no trocador. A levei para o banheiro, e comecei a lhe dar banho, como sempre ela voltou a chorar, e a minha única preocupação, era não afogá-la na banheira.

-O papai esta aqui meu amor, esta tudo bem!... Não precisa chorar!

Era tão ruim as vezes em que ficava sozinho, pois me lembrava de tudo o que tinha acontecido naquele maldito dia. A cada dia que passo sem contar a ela, me sinto péssimo de verdade, mas definitivamente eu não queria que ela se aborrecesse mais, e nem me aborrecer, ao menos não ainda. Os dias que se sucederam ao fatídico dia, foram horríveis, ainda mais quando estava perto dela, e tentava agir como se nada tivesse acontecido. Mentir para ela fingindo que estava tudo bem, sendo que a única coisa que eu queria era ir embora dali, e parar de fingir ser algo que não era, estava sendo muito difícil. A forma que ela me olhava parecia me dizer “Ai tem Bruno Mars, você não me engana” chegava a me deixar paralisado. Infelizmente ou felizmente as vezes em que ela me pedia para ir embora, ou nem tentar dormir no hospital com ela, de certa forma me deixavam aliviados, e sair dali começou a ficar mais fácil do que antes, pelo simples fato de que eu poderia entrar no meu carro, e me lamentar ate não querer mais. Deixar a minha consciência me flagelar como se fosse um chicote de couro.

Por falar em couro, quando o Phill ficou sabendo, eu pensei que ele iria arrancar o meu coro para fazer tamborim, eu nunca tinha visto ele tão chateado. Eu sabia que estava errado, e por isso apenas ouvi, o que eu iria dizer? Não havia muito que ser dito, por isso preferi me calar. A única coisa que eu pedi a ele foi para que a Urbana não ficasse sabendo ainda, pois eu fazia questão de contar a Mary, mesmo que ela ficasse extremamente “puta” comigo, me batesse, me xingasse, enfim, eu estaria merecendo. Eu devo isso a ela, devo a minha palavra, e a minha honestidade em assumir o meu erro, afinal eu fui homem para traí-la, tenho que ser homem para assumir o meu erro.

Terminei o banho da minha filha, enrolei-a na sua toalha e a coloquei no trocador novamente. Comecei colocando a sua frauda enquanto interagia com ela, que começava a dar os seus primeiros sorrisos. A minha filha e o meu bem mais precioso, era o meu tudo, o meu pilar, ela era uma das melhores coisas que tinha me acontecido nos últimos meses. Estava terminando de colocar o seu macacão quando a Rose entra no quarto.

-Deixa que eu mesmo termino de arrumá-la!

-Já estou acabando Rose!

-Você precisa tomar banho e se arrumar!<disse me puxando para sair de perto da Angel, e assumindo o meu lugar>

-Depois que eu terminar de arrumá-la eu vou...

-Vai agora, você precisa se arrumar, para sair!

-Posso saber para onde eu vou?... Eu só vou ao hospital mais tarde...

-Acho que a Mary não vai gostar muito de ficar a sua espera, logo no dia da alta dela depois de passar 3 meses la dentro...

-Espera ai, você disse alta?<a olhei meio atordoado>

-Sim, era do hospital no telefone, eles comunicaram que ela teve alta esta manha, e você já pode ir buscá-la!

-Meu Deus Rose!<a abracei forte>... A minha Mary, a minha mulher vai voltar pra casa?<disse e senti os meus olhos lacrimejarem>... Filha, a mamãe vem pra casa meu amor!<a beijei e ela sorriu>

-Vai logo tomar o seu banho!

-Rose, arrume a Angel, deixe-a ainda mais linda, coloque o melhor vestido, o mais bonito que tiver, eu vou levá-la comigo!

-Tem certeza?

-Claro!... Ligue para todos e avise que vamos fazer uma recepção para ela, mande fazer algo de comer, tudo bem gostoso... Droga estou me sentindo como um adolescente no primeiro encontro!<disse e as lagrimas escorreram>

-Tenha calma!<disse colocando a minha bebe no seu berço>... Não vai ter um ataque do coração!<disse me abraçando>

-Esperei tanto por isso!<disse com a voz embargada seguido de um soluço>

-Eu sei que sim, mas agora e ela que esta te esperando!

-Verdade!... Faça tudo o que te pedi, por favor!

-Claro!<disse e sai do quarto>

Ela teve alta, vai voltar para casa, depois de mais de três meses, enfim ela vai voltar para o lugar de onde ela não deveria ter saído. Feliz? Porra, feliz, radiante, em estado de êxtase, emocionado, exalando felicidade pelos poros , juntando tudo isso ainda não e o suficiente para descrever o que estou sentindo agora.

Retirei a minha roupa o mais rápido que consegui, e entrei no box, acho que bati o meu record de banho mais rápido. Estava tão ansioso para buscá-la no hospital, que o tempo que eu demorasse no banho era o que menos importava agora. Me enrolei em uma toalha, e segui para o closet, coloquei uma calça de lavagem escura, uma camisa branca com a estampa do red hot, os meus vans, e apenas ajeitei o cabelo, pois iria colocar um fedora. Olhei no espelho, e estava vestido como ela gostava, simples e bonito.

Passei o perfume que ela mais gosta, e escolhi uma lingerie, e um vestido leve, para levar para ela sair do hospital. Estava tão excitado pela sua volta para casa, que quase não cabia em mim de felicidade. Depois de pronto, fui para a sala e relembrei tudo o que queria que a Rose fizesse, e ela mais uma vez concordou, e mandou eu me acalmar.

Peguei a minha filha quer estava linda por sinal, a sua bolsa, a bolsa com as coisas da Mary, e a levei para a garagem. Assim que entrei na mesma, olhei para o "Sedan prata", e parecia que ele seria para sempre um elefante “PRATEADO”em cima do meu peito. Definitivamente eu preciso dar um fim neste carro, trocá-lo por outro, não sei, mas com ele eu não posso mais ficar. E de forma nenhuma eu poderia ir buscá-la com ele, o seu estofamento fedia a sexo barato. 
Segui em direção ao meu tucson preto, eu geralmente não saia com ele, por que dentro dele eu parecia um dos anões da branca de neve, normalmente quem dirigia ele era o Dre, mas hoje eu não tinha muitas opções já que o outro estava na manutenção.

-Vai me deixa a pe patrão?<disse Dre adentrando a garagem>

-Eu vou sair com este, usa o prata!<disse ajeitando a cadeirinha no bando de trás>

-Este carro parece uma lata de sardinha!... Sinto claustrofobia toda vez que entro nele!<reclamou ao me ajudar com as bolsas colocando-as no banco da frente>

-Eu sei cara, sinto muito por isso, mas eu realmente não tenho mais condições nem mesmo de olhar para este carro!<lamentei ao terminar de prender a cadeirinha>... Ele me remete a lembranças péssimas, e eu não posso mais ficar com ele!<senti a minha filha segurando o meu dedo e o levando ate a sua boca o mordendo. Ainda bem que ela ainda não tem dentes>

-Eu imagino que sim!... Vai la buscar a Mary, eu vou providenciar as coisas para a recepção com a Rose!

-Ela já deve estar agoniada, para vir embora!<disse retirando o meu dedo da boca dela, e fechando a porta>... Vou indo, prometo providenciar a troca deste “elefante”!

-Tudo bem!<sorriu>... Elefante anão ne?<o ouvi reclamar>

Entrei no carro, e a primeira coisa que eu fiz foi ajeitar o banco do motorista, da forma que estava nem os meus pés alcançavam os pedais. Afivelei o cinto ao meu peito, ajeitei os espelhos, olhei para a minha filha que estava bem quietinha brincando com as próprias mãozinhas, me virei um pouco mais para olhá-la nos olhos, ja que ela estava no lado do carona na parte de trás, e ela sorriu soltando um gritinho divertido mesmo com a sua inseparável chupeta.

-Vamos buscar a mamãe meu amor?<sorri e mexi nas suas mãozinhas inquietas>... Ela deve estar louca para vir pra casa!... E eu louco para te-la de volta!<disse a mim mesmo>

Dei partida no carro, e em poucos segundos já estava pegando aquele mesmo caminho, o caminho no qual faziam 3 meses que eu o faço todos os dias, a única coisa que eu quero, e que os próximos sejam apenas de rotina, apenas para que ela continue o tratamento, e não para visitá-la no hospital novamente.